quinta-feira, 4 de novembro de 2010

com que voz chorarei meu triste fado

Hoje tivemos almoçinho cultural e eu tinha desafiado a PM a irmos até à Casa Museu Amália Rodrigues, que eu já conhecia e ela não.


A Casa da Amália fica numa moradia de 3 andares na Rua de S. Bento. Acontece que logo a seguir à morte da Amália em 1999, eu tive a sorte de poder visitar a casa, quando ela ainda nem sequer estava aberta ao público. Uma amiga do meu amigo RM, que é realizadora estava a fazer um documentário sobre a vida da Amália e conseguiu que nós fossemos lá ter com ela e, dessa forma, tivemos o privilégio de ver a casa detalhadamente.
Estou a contar isto porque a visita de hoje foi uma verdadeira desilusão.


Em primeiro lugar, a visita é guiada por uma senhora que nos acompanha no percurso, mas que de visita guiada não tem nada. Limita-se a dizer umas banalidades sobre as comendas e as medalhas da artista, faz referência a um ou outro objecto e pouco mais. Ficamos mais com a sensação de que estamos a ser vigiados, do que propriamente na presença de alguém que é conhecedora da vida e obra da artista. Depois, penso eu, quando se faz uma visita deste tipo, o que se pretende é não só ver e respirar a intimidade de um determinado artista, como conhecer a história dos múltiplos objectos que povoam o seu universo. Visitar a casa de um artista é como um desenho com múltiplos layers, que levantados um a um nos permite entendê-lo melhor nas suas escolhas e na sua razão de ser. Mas para que isso aconteça é necessário ter alguém competente ou suficientemente apaixonado para que possa guiar os visitantes nessa descoberta. E neste caso, nada disso acontece. Um desastre!


Depois, grande parte da casa está fechada. Não se pode visitar o jardim traseiro, nem as cozinhas, nem as casa de banho, nem sequer o 3 andar da casa, que era onde a Amália guardava todo o seu guarda-roupa de cena. Ou seja, o que é visitável, é a sala de estar, a sala de jantar, um quarto de visitas e o quarto da Amália. Mais nada. Uma pena, tendo em conta que há imensas divisões fechadas. O guarda roupa está representado por meia dúzia de vestidos, jóias nem vê-las, só os adereços de strass que usava em cena...Um desperdício. E claro, sobre os inúmeros quadros de alguns dos mais importantes artistas portugueses do sec.XX, nem uma palavra! Não se pode fotografar, nem filmar. Porquê, perguntámos nós? Para não vulgarizar a casa, respondeu a senhora.

Pobre Amália que merecia melhor sorte e tem o fado de ter gente tão incompetente a tomar conta do seu espólio.
Por esta visita, pagam-se 5 euros. Enfim, uma desilusão. Está tudo dito.

1 comentário:

  1. Subscrevo inteiramente o que disseste! Quando entramos ou somos convidados a entrar na casa de alguém vamos obviamente entrar na sua intimidade. E é isso mesmo que torna valiosa a visita, reconhecer as particularidades de cada objecto, as histórias por detrás deles e porque se escolheu tê-los em casa... e o interesse, a expectativa, (algo de terna coscuvilhice) dos fâs em visitar a casa de Amália é absolutamente gorada com esta visita que nos proporciona a fundação que gere o espaço. Assim não! Assim cria-se desilusão e desinteresse. A guia, com aquele sorriso forçado de tão profissional, mais preocupada em retorquir negativamente sobre os teus comentários oportunos, só mostrou ar de frete e não conhecer essas particularidades que tornam uma visita cheia de interesse e valiosa. Não vale a pena ir ver aquele "museu" à Rua de São Bento porque o que nos é mostrado é tão descaracterizado que podia acontecer em qualquer outro local... E o ingresso de 5 euros torna-se caro porque a visita desilude! Haveremos de ter mais sorte no próximo almocinho!!!! Se calhar a culpa foi porque hoje não havia bifanas.... ;)

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